El campamento legionario de Cáceres el Viejo (Cáceres, España), escenario de la Guerra de Sertorio

Abstract

Sem que pretendamos alongar demasiado esta breve introdução, não podemos deixar de transmitir algumas considerações ao leitor que, versado ou não nestes temas, são necessárias para que se entendam algumas das opções tomadas. Como em qualquer trabalho desta natureza e extensão, alguns pontos menos fortes podem resultar de decisões consciencializadas, mas outros resultam de limitações burocráticas, carências informativas ou, porque não dizê-lo, imprudências que assumo com humildade. Antes, porém, insisto que este trabalho é resultado de um projecto verdadeiramente internacional, que reuniu uma equipa multidisciplinar. Além de este ser transfronteiriço, uma vez que o projecto post-doutoral nanciado pela FCT contemplava duas instituições de acolhimento (a UNIARQ - Universidade de Lisboa e o Museo de Cáceres), a equipa reunida integrou vários investigadores portugueses e espanhóis, aos que se somou um italiano e uma tunisina. Por este motivo esta obra está redigida nas duas línguas, acreditando que será de fácil leitura para os pares dos países hispânicos. Da mesma forma que procurámos eliminar fronteiras nas colaborações, o mesmo exercício foi recorrentemente exercitado na análise e na investigação vertida para estas páginas. Atendendo à proximidade de Cáceres el Viejo do território português, era necessário eliminar os conceitos actuais de «fronteira» e relacionar sítios de um e do outro país. Este trabalho, que, como vimos, é bem mais do que aquele que se imprime nestas páginas, está composto essencialmente por três partes: uma dedicada ao sítio; outra exclusiva dos estudos de artefactos; e uma terceira, de síntese e reÐexões. Na primeira parte pretendeu-se abordar questões e temas que, até ao momento, têm sido somente delineados em vários trabalhos, mas que não foram esgotados. Por este motivo, pareceu-nos que deveríamos esmiuçar com detalhe alguns pontos que são essenciais para compreender com mais profundidade a evolução do próprio entendimento deste sítio arqueológico, como é o caso da «História da Arqueologia» e sobre a etimologia do topónimo. Seguramente que o leitor poderá perguntar-se: porque não abordar outros temas igualmente relevantes, como o da arquitectura, da poliorcética ou a tentativa de contextualizar o resultado das antigas intervenções? A resposta passa, neste caso, por algo que já foi mencionado. Além de considerarmos que a obra de G. Ulbert continua a ser actual e muito válida para estes temas, tampouco pretendemos subtrair-lhe valor. Além daquelas tarefas seguramente se revelarem eventualmente desprovidas de resultados válidos, acreditamos que esta decisão é também uma forma de honrar a validade do trabalho do professor bávaro, ou pelo menos essa foi a nossa intensão. Talvez o capítulo nal deste primeiro bloco seja aquele que destoa dentro da temática geral que se procurou abordar. Versa sobre um conjunto de artefactos heterogéneo, quer na cronologia quer na composição, motivo que justi cou a colaboração de vários investigadores com diferentes valências. A decisão de incorporar este trabalho no primeiro bloco, e não no bloco respeitante aos materiais — que com justiça se pensará que faria mais sentido— assenta sobretudo no facto de este conjunto ser minoritário, não sendo, portanto, representativo da autêntica ocupação antiga do sítio. O corpo desta obra é constituído pela parte dedicada a novas considerações sobre a arquitectura, mas sobretudo aos materiais. Conquanto se tenham abordado alguns pontos acerca da arquitectura do recinto militar, veri car-se-á que se pretendeu actualizar algumas interpretações que servem, depois, como base de uma interessante leitura evolutiva da poliorcética desta fase. Porém, foi aos materiais que se consagrou a maior atenção, pois a maioria do conjunto do recinto militar permanecia inédita. Por outro lado, pareceu-nos importante expor a totalidade dos materiais, devidamente quanti cada de forma global, mas também por categorias, algo que até agora nunca tinha sido concretizado. Com efeito, tivemos oportunidade de justi car em outros trabalhos os motivos pelos quais já não são su cientes estudos de materiais seleccionados (Pereira e Morillo, 2021: 10). Como se terá oportunidade de ver nestas páginas, Cáceres el Viejo é um bom exemplo disso. Sendo certo que os materiais e as formas mais representativas do conjunto não perderam a sua supremacia, as minorias revelaram ser primordiais para entender as dinâmicas de abastecimento do recinto militar, mas sobretudo para xar com justeza uma baliza cronológica de ocupação. A última parte desta obra, como é norma, pretende conciliar resultados e opiniões. Lembramos, contudo, que os resultados individuais foram sempre bastante consensuais no que respeita às questões transversais a todos os estudos, situação que facilitou enormemente o trabalho dos coordenadores. Como se disse antes, embora tenhamos evitado alguns temas que foram aborda- dos por G. Ulbert, outros foram incontornáveis. Esse foi o caso do trabalho dedicado à castrame- tação em época romana-republicana. Cáceres el Viejo arrasta um lastro de opiniões, debates e convicções das quais frequentemente é diÇícil desvincular-se. A cronologia é uma dessas situações. Como se verá, a análise de conjunto deste importante sítio revela uma homogeneidade temporal evidente, mas que nem sempre é vista com a mesma clareza. Por outro lado, não podemos ainda demonstrar, pelo menos sem que se realizem trabalhos arqueológicos metódicos no sítio, que esta é uma ocupação monofásica, ainda que o relatório da última intervenção possa apontar nesse sentidoÂâ (Salgado, 2015: 44). Sem a de nição de contextos concretos, antigos ou futuros, permanecerá a dúvida de se todos estes recipientes e artefactos conviveram num delimitado tempo ou se, com efeito, uns foram utilizados antes que os outros. Apesar disso, arrisco insistir na aparente homogeneidade do conjunto, não sendo evidentes artefactos anteriores ou posteriores a um momento concreto, não parecendo sequer possível falar de materiais residuais e menos ainda de intrusivos (exceptuando, claro está neste caso, os de outros períodos históricos).